sáb. jun 7th, 2025

Preservando a capacidade de realizar transações on-line com privacidade!

Uma pergunta recorrente quando falamos com políticos e funcionários dos governos ao redor do mundo é se a criptomoeda é anônima. A segunda pergunta é que caso ela seja,, o que pode ser feito para que mudar essa característica? A implicação é que o anonimato nas transações online é uma coisa perigosa e ruim.

Dado que normalmente, essas perguntas giram em torno de Bitcoin ou Ethereum, a resposta simples para a questão é que não, tais ativos digitais não são anônimos e que a aplicação regular da lei explora rotineiramente a transparência dessas blockchains em processos judiciais que demandem a necessidade de descobrir a identidade de alguém por detrás de uma transação específica. Essa resposta, no entanto, evita abordar a implicação de que o anonimato é ruim. Não é!

O que muitas vezes é referido depreciativamente como “anonimato” é, na verdade, a capacidade dos indivíduos de manter as informações sobre si próprias na esfera privada. É verdade que essa é uma habilidade que pode ser usada tanto para bons quanto para maus. É como alguém usa esse poder que pode ser considerado bom ou ruim, mas não a tecnologia que permite manter a privacidade de alguém em um contexto de uma negociação financeira online. De fato, a tecnologia que preserva a privacidade, como a criptografia por detrás das criptomoedas, pode ser algo muito benéfico em um mundo cada vez mais vigiado e intermediado, com todas as implicações negativas de tais posturas.

Os pagamentos privados entre pares (chamadas transações p2p) são essenciais para uma sociedade aberta. Com o advento das criptomoedas que preservam a privacidade, como Dash, Grin, Monero e Zcash, dentre outras, e a perspectiva de que recursos de preservação da privacidade sejam adicionados ao próprio Bitcoin, é importante explicarmos por que o dinheiro eletrônico é uma ferramenta que não deve ser apenas tolerada, mas fomentada e celebrada.

Em um mundo sem dinheiro em forma de papel moeda (uma forma de dinheiro ao portador e p2p), todas as transações devem ser necessariamente intermediadas por instituições financeiras. Transações intermediadas estão, por sua própria natureza, sujeitas à vigilância e ao controle. Se instituições financeiras terceirizadas precisarem fazer parte de todas as transações, elas ficarão a par dos detalhes íntimos da vida financeira de todas as pessoas na face da terra. Eles também podem optar por proibir certas transações que considerarem perigosas por motivos arbitrários e potencialmente poderão até mesmo excluir certas pessoas de capacidade de transacionar.

A intermediação pode incluir muitos benefícios, incluindo eficiência e conveniência. Usada de forma responsável, as informações obtidas da posição privilegiada do intermediário financeiro também podem permitir uma melhor concessão de crédito, evitar fraudes e ajudar as autoridades a combater o crime. Mas  devemos lembrar que tal pode também pode ser abusivamente usado por empresas e governos de forma maléfica ou mesmo criminosa. Se não houver como evitar a intermediação em absoluto, os indivíduos não terão como preservar sua privacidade ou sua autonomia face à onipresença do(s) intermediário(s).

O dinheiro é uma tecnologia cujas raízes são antigas e nos permite evitar, em certa medida, a intermediação excessiva. Assim, preservar os valores necessários à liberdade individual e à dignidade humana passa pela capacidade das pessoas transacionarem entre si de forma anônima em certa medida. Embora estejamos bem longe de uma existência sem dinheiro em fora de papel moeda e completamente intermediada, há um reconhecível esforço conjunto para eliminar o dinheiro na forma de papel moeda, e esse esforço tem sido relativamente bem-sucedido em algumas partes do mundo.

O dinheiro é essencial para uma sociedade aberta. É uma válvula de escape no nosso mundo cada vez mais intermediado e, dessa forma, vigiado. Não argumentamos que o dinheiro em papel moeda deve ser a única opção para transações, ou mesmo a opção que todos devam escolher na maior parte do tempo. Mas deveria ser uma opção. Sem esse tipo de dinheiro, não há alternativa a não ser que cada compra seja vigiada e gravada e as informações sejam usadas sem o consentimento de cada pessoa. Sem um dinheiro anônimo, não há saída – nenhuma chance para o tipo de privacidade que preserva a dignidade e a liberdade que sustentam uma sociedade aberta.

O dinheiro também é necessário para manter a agência e a autonomia. A autonomia pode ser entendida como o poder de tomar decisões por si mesmo sem a interferência de outros. É a capacidade de experimentar as coisas do jeito certo, ter sucesso e ser recompensado, ou cometer erros e aprender com eles. Assim como na privacidade pessoal, sem autonomia individual, não pode haver sociedade livre.

Portanto, é imperativo que preservemos nossa capacidade de transacionar de forma anônima, pelo menos em certa medida e extensão.

À medida que nos movemos para um mundo cada vez mais on-line, no qual o dinheiro físico não é prático para muitas transações, precisamos desenvolver e fomentar uma forma de dinheiro eletrônico que seja tão preservador da privacidade quanto o dinheiro em forma de papel moeda. Embora isso envolva alguns problemas e não apenas benefícios, argumentamos que a maneira de lidar com isso não é proibir o dinheiro eletrônico anônimo.

 

Fonte: https://infochain.com.br/preservando-a-capacidade-de-realizar-transacoes-on-line-com-privacidade/

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