Blockchain contra o crime!

Inteligência artificial e tecnologias de reconhecimento facial estão sendo usadas para criar imagens e vídeos falsos cuja aparência são praticamente indistinguíveis de fotos e vídeos reais. Como a blockchain pode ajudar a prevenir ou impedir o crime através do uso dessas tecnologias?
Os entusiastas da blockchain já estão, a essa altura, acostumados ao conceito de prova-de-trabalho numa blockchain como a do Bitcoin. Prova-de-trabalho é um termo que se refere ao fato de que os computadores que validam as transações em um bloco numa cadeia de blocos (blockchain) precisam necessariamente provar que realizaram certa quantia de trabalho computacional para resolver as equações que conduzem à validação do bloco. O objetivo desse trabalho todo é o recebimento da recompensa por essa árdua tarefa. Nessa direção, os chamados mineradores gastam recursos computacionais e energéticos em busca dessa recompensa valiosa, acrescentando à rede como um todo, segurança.
Se a linguagem em torno do conceito de prova-de-trabalho, porém, soa muito enigmática, complexa ou quase impossível de entender para você, não se desespere. Não é necessário se tornar um experto em criptografia ou computação para entender algumas das aplicações e implicações que essa tecnologia pode ter no mundo atual.
Um dos fenômenos muito discutidos atualmente lida com o assunto das chamadas fake news, ou notícias falsas. A capacidade de criar imagens e vídeos que parecem “reais” eleva o potencial uso de uma tecnologia assim para o cometimento de toda sorte de crimes e para se espalhar todo tipo de fake news.
Um exemplo é o vídeo abaixo de Barack Obama, criado por Inteligência Artificial.
Imaginemos que grupos criminosos conseguissem convencer aliados ou inimigos políticos de que então o presidente dos EUA estivesse planejando ou executando X ou Y atividade militar ou comercial que demandasse uma resposta bélica ou de qualquer outra natureza. O potencial seria devastador.
Outra aplicação dessa tecnologia lida com o conceito chamado de Deep Fake Porn. A ideia é ser capaz de, usando tecnologia de reconhecimento facial, recortar fotos e vídeos de celebridades ou pessoas “normais” e as enquadrar em cenas de sexo explícito de forma realística.
Já existem aplicativos e databases onde um usuário anonimamente faz o upload de uma ou mais fotos de uma pessoa e se retorna a ele uma cena pornográfica com um ator ou uma atriz cujo corpo “bate” com o rosto em questão. Resta ao usuário fazer o trabalho de “unir” o rosto da pessoa àquela cena e bingo! Temos um vídeo pornô de qualquer pessoa que desejemos retratar em tal situação. (Há vídeos onde o presidente Trump é representado em cenas de sexo com Hillary Clinton, por exemplo).
Especialistas dizem que alguma variação desse tipo de tecnologia, inclusive, provavelmente tenha sido usada para retratar o atual governador do Estado de São Paulo em uma cena de sexo explícito pouco antes do dia da votação para o posto de governador, com risco efetivo à sua eleição como governador do Estado mais poderoso do Brasil.
Além de implicações sociais e políticas de longo alcance, essa tecnologia pode criar situações no mínimo embaraçosas, senão completamente insuportáveis, a pessoas comuns em ambientes estudantis ou de trabalho, por exemplo, caso se tornem alvo da ação difamatória de algum criminoso obcecado ou perturbado sexualmente com sua imagem e de posse de fotos e vídeos fartamente disponíveis nas redes sociais atualmente.

Como a Blockchain pode ajudar a prevenir ou impedir o uso criminoso dessa tecnologia?
Para responder a essa pergunta, primeiro uma ilustração simples de como a Blockchain funciona.
O algoritmo SHA-256, que está na base da tecnologia da Blockchain do Bitcoin, é uma saída digital única baseada em uma entrada digital exclusiva. Isso implica que se alguma coisa muda na entrada, a saída se torna totalmente diferente de forma claramente reconhecível.
Então, por exemplo, se eu listar tudo que eu comi no café da manhã hoje
- pudim de banana
- café
- leite de soja
O hash SHA-256 relativo a essa informação será TOTALMENTE diferente de uma lista que diz:
- pudim de bananas
- café
- leite de soja
Então, se você faz uma lista de coisas que comeu no café da manhã e cria um hash SHA-256, então você pode compartilhar o hash sem compartilhar a lista.
O “s” a mais na segunda lista criará uma hash absolutamente diferente da hash da primeira lista, por causa das características do SHA-256.
Mais tarde, você pode divulgar a lista de coisas que comeu no café da manhã e qualquer um poderá comparar o hash do SHA-256 com sua lista original.
A partir daí, alguém pode provar de forma independente que uma lista específica foi a mesma lista que você escreveu, com exatidão, porque, se for, o hash será o mesmo. E ninguém poderá alterar suas informações sem ser detectado facilmente.
Desta forma, você pode fazer transmitir todo tipo de informação em forma de hash sem revelar a informação em si, mas depois, em caso de qualquer problema, você provar para alguém que a informação original e correta é X e não Y. É brilhante.
Além de tudo, se você marca a data e a hora do registro de uma hash de SHA-256 em uma blockchain, você pode provar não apenas a precisão da informação do hash, mas exatamente quando no tempo você criou aquela informação originalmente.
E como tudo isso se aplica ao problema que estamos tratando aqui?
Imagens e vídeos são informações na rede mundial de computadores e podemos atribuir hashes SHA-256 (ou algum outro tipo de algoritmo) e elas, e obter o horário exato em que elas foram lançadas na rede em uma blockchain.
Se no futuro, todos os telefones e câmeras de vídeo vierem com esse tipo de capacidade incorporada nativamente, e cada vídeo e foto tiver uma Hash Original e registrada na Blockchain, se alguém usar essa foto ou vídeo para uma fraude será fácil desmascarar essa falsificação, o que pode prevenir ou impedir o uso criminoso dessa tecnologia e conduzir à punição dos responsáveis caso seja possível identificá-los.
Dessa forma, será possível que sempre que você tirar uma foto ou gravar um vídeo no futuro, eles receberão um hash correspondente que será gravado na blockchain. Então, se essa foto ou vídeo for manipulado e publicado posteriormente, ele terá um hash completamente diferente, revelando a fraude de forma cristalina.
Assim, será possível pensar numa maneira de verificarmos imediatamente se uma imagem ou um vídeo que estamos olhando foi ou não falsificada.
Naturalmente, padronizar todos os registros e criar mecanismo para identificar fraudes será muito complexo na prática e estamos longe disso ainda, mas tudo o que sei é que se criminosos podem usar a Inteligência Artificial e aplicativos de reconhecimento facial para criar imagens falsas, nós poderemos usar a blockchain para fornecer prova de autenticidade de qualquer tipo de arquivo digital.
A blockchain será nossa aliada no combate aos crimes digitais.